sexta-feira, outubro 1

A Opressão

Eu não sei vocês, mas eu tenho um grave problema: é só eu saber que não posso conversar, que me dá uma vontade louca de bater papo. Mas é uma coisa incontrolável. Em casamento então, nem se fala. Na minha colação de grau, por exemplo, eu era única lá, em cima do palco batendo papo com outra formanda desconhecida que estava sentada do meu lado. Eu não agüento. Eu tenho de falar!

Mayra me avisou que, durante o show, as pessoas não conversam. Pronto. Bastou isso para eu lembrar de um monte de coisas urgentes para falar. Desde comentar que o meu sapato estava me apertando, até decidir com as meninas se a gente ia comer bolinho de mandioca ou pão de queijo.

Eu confesso que achei um tédio ficar lá, olhando aquele povo tocar e não dançar, não falar, não fazer nada, né? E tem outra, essa história do Cry Club ser no subsolo me deu um pouco de claustrofobia. Tentei abstrair.

Quando já não tinha mais o que fazer naquele show, eu comecei a cantar. Lógico! Não pode falar, não pode rir, não pode nada. Pô, pelo menos cantar pode, né? E aí, eu desenvolvi uma teoria muito bacana: todas as músicas de chorinho seguem o ritmo de ‘Valei-me Deus, é o fim do nosso amor’, se for rápida e ‘Bate outra vez, com esperanças o meu coração’, se for devagar. É isso. Nada mais que isso. Pode testar. Dá certo com todas as músicas!

É óbvio que, quando eu revelei essa teoria para as meninas, elas tiveram uma crise histérica de riso. E todo mundo pediu silêncio. Aí que a minha vontade de falar aumentou!

A noite teve até um momento cultural: Renata me explicou que a diferença entre um cavaquinho e um bandolim é que o cavaquinho tem a mesma afinação que o violão e o bandolim, a mesma do violino. Uma das duas é em dó. Ah, bom, agora sim eu entendi perfeitamente...