quinta-feira, novembro 11

Confissões

Darcy Ribeiro escreveu as dele. Tom Jobim teve as suas escritas pela irmã, Helena. Ruy Castro escreveu várias: do Garrincha, do genial Nelson Rodrigues e, inclusive, da Bossa Nova.

Se até Adriane Galisteu (O Caminho das Borboletas) e Zélia Besame Mucho Cardoso de Melo (Zélia, Uma Paixão) tiveram a cara de pau de escrever suas biografias, quem sou eu para não fazer três simples confissões aqui?

Serão apenas três, porque não é de meu feitio ficar revelando coisas íntimas, né? Bom, então, senta que lá vem a história!


Confissão 1 – Eu não ando de elevador sozinha

Não, não e não! Nem à base de gardenal na veia eu ando de elevador sozinha! Eu não sei o que é. Não tenho trauma de infância, nunca fiquei presa nem nada, mas me dá um pânico inacreditável. Uma falta de ar, o coração acelera e a mão fica gelada.

Agora pensem: eu trabalho no 12º andar. Todo santo dia eu tenho de ficar disfarçando na portaria e esperando alguém para subir comigo. E todo santo dia eu tenho de pedir para alguém do escritório descer comigo. Já sobrou até para a minha linda, amada e sempre prestativa chefinha.

É bem verdade que esse medo é até bom para a minha saúde. Vou explicar: se eu fico com vergonha de pedir para o bom samaritano subir comigo, eu vou até o andar da pessoa (digamos, o nono andar) e subo o resto de escada. Pratico excercício e cuido da saúde...

Essa confissão merece até uma musiquinha (de elevador) de fundo:

“Podem me chamar, e me pedir e me rogar, e podem mesmo falar mal, ficar de mal que não faz mal. Podem preparar milhões de festas ao luar, que eu não vou ir. Melhor nem pedir que eu não vou ir, não quero ir...”

Esse Carlos Lyra e Vinícius de Moraes sabiam o que estavam escrevendo quando fizeram essa música! Andar de elevador sozinha, jamé!


Confissão 2 – Eu não sei atravessar rua

A minha sobrinha de dez anos sabe. Meu avô de oitenta também. Mas euzinha aqui não sei. E assumo.

Acho que o meu problema é coordenação motora. Gente, parem para pensar: é muito difícil atravessar rua. Você tem de olhar para um lado, olhar para o outro e andar ao mesmo tempo. Coordenar essas três ações é tarefa complexa (não, eu não sou loira, tá?)

A rua do Beirute então eu nunca atravesso sozinha. Teve um dia que eu pedi para o guardador de carros atravessar comigo. Não, isso não é divertido.

Eu tenho inveja daquele povo que olha uma rua e já vai atravessando na maior calma. Ou então que fica paradinho na faixa do meio esperando a vez de passar. Eu não faço isso.

Prefiro fazer como os Beatles e atravessar na faixa. Ou então no sinal. Mesmo que eu tenha de andar mais um pouquinho, pelo menos chego sã e salva do outro lado!

Se Drummond dizia que é preciso inspiração até para atravessar a rua, eu digo que é preciso mais. É preciso muita coragem!


Confissão 3 – Eu morro de medo de filme de terror

Eu fico com vontade de ver, mas depois fico impressionada. O Exorcista eu vi. Mas esse Exorcista novo que tá passando agora no cinema não vou ver não. Pra quê? Pra ficar com medo de dirigir sozinha de noite? Pra ficar com medo de ir beber água de madrugada? Pra ficar com medo de me olhar no espelho do banheiro?

Até hoje eu tenho medo do Sexto Sentido. Quando lembro daquele menininho tão bonitinho falando 'I see dead people’ me arrepio até o último fio de cabelo. E a cara do Jack Nicholson no Iluminado? Eu nunca vi esse filme, mas só de ver a foto da cara dele já me apavoro toda. E o livro eu tenho lá em casa. Também nunca li. Tenho pavor só de olhar para ele em cima da estante.

Ontem eu até que fiquei um pouco corajosa e quase fui ver ‘Os Esquecidos’ sozinha no cinema. Mas aí, li o resumo do filme e me deu um medão. O filme é suspense e nem deve ser lá essas coisas, mas ir sozinha também já é demais, né? E se eu quiser gritar? E se eu quiser conversar? Não vai ter ninguém do meu lado pra cuidar de mim!

Achei melhor ir fazer um happy hour. E garanto que foi muuuuuito mais divertido que ver filme de suspense sozinha!