A arte de matar um pernilongo
Eu não sei. Me concentro. Miro. Coloco o bichinho entre as minhas mãos, mas na hora que eu bato a palma, não sei o que acontece. Ou eu erro, ou não coloco força o suficiente e o bichinho sai voando como se nada tivesse acontecido.
Na verdade, eu tenho nojinho daquele sanguinho que sai. E que eu sei que, muitas vezes, é o meu sangue que aquele maledeto sugou a noite toda.
Como essa noite, por exemplo. Você conseguiu dormir? Parabéns! Porque eu não consegui. Um pernilongo muito do pentelho conseguiu me atazanar a noite toda.
Cobri o ouvido, e ele lá. Mudei de posição, e ele lá. Mudei de posição de novo, ele lá. No auge da revolta, acendi a luz e fui à luta. É claro que o bichinho não deu as caras, né? Apaguei a luz de novo. Ele apareceu.
Depois de acender e apagar a luz três vezes, cheguei ao ponto de montar uma tática de ataque. Acendi a luz e fingi que estava dormindo tranqüilamente. A tentativa de enganar o pernilongo, obviamente, não deu certo.
Confesso que fiquei com algumas dúvidas: será que o pernilongo sabe quando a gente está fingindo que dorme? Será que faz diferença para o pernilongo estar com a luz acesa ou apagada? E, afinal, ONDE os pernilongos se escondem?
Seis e meia da manhã e ele continuava lá me enchendo o saco.
Foi aí que eu cheguei a duas conclusões:
1- Pernilongo não dorme.
2- Até um pernilongo consegue me vencer! Que vergonha!